Embalo para uma determinada situação
Esclareceu-se uma presença afónica, que todos sentiram pelo menos uma vez, operante nas suas acções invisíveis, de justeza vulgar, enquanto rapidamente se testemunhou uma linha trépida, que escureceu a paisagem por ali abaixo até aos nossos pés, assombrando os espíritos mais selvagens que, por tédio, passeavam por entre os arbustos, árvores e afins, densificados pelos seus deixados. Quando a linha se fechou sobre si própria, em ruídos se desvendaram as suas fraquezas, mas nenhum destes descodificava a sensação comum de quem deambulava no seu centro. Alguém pensou que o dia estivera tão calmo e, agora, nem uma rua ousava em passar. Sentiam-se as ressonâncias que enfatizavam a matéria presente e, assim, tudo se misturava, sobressaltando o negro e tornando o sítio amorfo; nada se distinguia e nada importava para além de outra coisa, portanto, sem limites. Também se pensou quem estaria aqui, ao que se retorquiu: cu grigri cucu, estás aqui tu.
Deixemos isto só, sobre as nossas cabeças e ouviremos raspar, objectos a pousar, alguns partidos e a partir e, bem lá em cima, um incessante bater, que nos acompanhará até provar o contrário. Deixemos outros recalcamentos surgir, por cima de ulteriores, apenas para se mostrarem frágeis, baços e antiquados, esquecendo a estória, para enaltecer o que prontamente se deseja. (“O que queres?” “A ti”). As pedras marcaram se e os retalhos transformaram paisagem em casa, mas os ruídos continuavam cada vez mais ásperos e agonizantes, embalando a cama fria; o vento moldava as copas das árvores, já depois de lhes ter mutado o corpo, dançando até à eternidade com o barulho por ali constante. Alguém dizia que aquilo que não se quer nem sempre aparece, que bem pior era o receio que estava sempre à espreita e, assim, se tinha de antever o cuidado com as árvores, que não se encontravam sozinhas.
Partimos do silêncio como uma memória reprimida do mesmo, o peso caiu sobre nós e precisávamos de estender a neblina para longe; fomos levantados por um braço, enquanto as nossas mãos protegiam o ventre, refastelado pelos lugares comuns, que ansiavam a novidade há muito perdida. Levados para cima, perdemos a completude e a densidade do ar deixava-nos visivelmente sós, porém, mesmo desligados, levitados, o lugar permanecia intacto e por si só gerido, ao que esta surpresa despoletou irritação, seguida de um sufoco.
Percebera-se que havia algo nas nossas palavras adulterado e por desvendar, que ninguém comunicava, desmascarando-se todas as debilidades, inutilmente frustradas; em volta, as coisas desagarravam-se e as fronteiras de cada uma enrijeciam, fechando-se intransponíveis, permanecendo restos de uma natureza, em função de caprichos de um ente universal, estagnado e combatido. Contrariado o direito ao nosso egocentrismo perguntaram por que receávamos, então, o silêncio, ao qual se respondeu: porque nunca existiu.