Bienal de Fotografia Vila Franca de Xira, 2022
Bienal de Fotografia Vila Franca de Xira, 2022
Bienal de Fotografia Vila Franca de Xira, 2022
Bienal de Fotografia Vila Franca de Xira, 2022
Bienal de Fotografia Vila Franca de Xira, 2022
Bienal de Fotografia Vila Franca de Xira, 2022
Embalo para uma determinada situação 

     Esclareceu-se uma presença afónica, que todos sentiram pelo menos uma vez,  operante nas suas acções invisíveis, de justeza vulgar, enquanto rapidamente se  testemunhou uma linha trépida, que escureceu a paisagem por ali abaixo até aos nossos  pés, assombrando os espíritos mais selvagens que, por tédio, passeavam por entre os  arbustos, árvores e afins, densificados pelos seus deixados. Quando a linha se fechou  sobre si própria, em ruídos se desvendaram as suas fraquezas, mas nenhum destes descodificava a sensação comum de quem deambulava no seu centro. Alguém pensou  que o dia estivera tão calmo e, agora, nem uma rua ousava em passar. Sentiam-se as  ressonâncias que enfatizavam a matéria presente e, assim, tudo se misturava,  sobressaltando o negro e tornando o sítio amorfo; nada se distinguia e nada importava  para além de outra coisa, portanto, sem limites. Também se pensou quem estaria aqui,  ao que se retorquiu: cu grigri cucu, estás aqui tu. 
      
     Deixemos isto só, sobre as nossas cabeças e ouviremos raspar, objectos a pousar,  alguns partidos e a partir e, bem lá em cima, um incessante bater, que nos acompanhará até provar o contrário. Deixemos outros recalcamentos surgir, por cima de ulteriores,  apenas para se mostrarem frágeis, baços e antiquados, esquecendo a estória, para  enaltecer o que prontamente se deseja. (“O que queres?” “A ti”). As pedras marcaram se e os retalhos transformaram paisagem em casa, mas os ruídos continuavam cada vez  mais ásperos e agonizantes, embalando a cama fria; o vento moldava as copas das  árvores, já depois de lhes ter mutado o corpo, dançando até à eternidade com o barulho  por ali constante. Alguém dizia que aquilo que não se quer nem sempre aparece, que  bem pior era o receio que estava sempre à espreita e, assim, se tinha de antever o cuidado com as árvores, que não se encontravam sozinhas. 

     Partimos do silêncio como uma memória reprimida do mesmo, o peso caiu sobre  nós e precisávamos de estender a neblina para longe; fomos levantados por um braço,  enquanto as nossas mãos protegiam o ventre, refastelado pelos lugares comuns, que  ansiavam a novidade há muito perdida. Levados para cima, perdemos a completude e a  densidade do ar deixava-nos visivelmente sós, porém, mesmo desligados, levitados, o  lugar permanecia intacto e por si só gerido, ao que esta surpresa despoletou irritação,  seguida de um sufoco.  
     Percebera-se que havia algo nas nossas palavras adulterado e por desvendar, que  ninguém comunicava, desmascarando-se todas as debilidades, inutilmente frustradas; em volta, as coisas desagarravam-se e as fronteiras de cada uma enrijeciam, fechando-se  intransponíveis, permanecendo restos de uma natureza, em função de caprichos de um  ente universal, estagnado e combatido. Contrariado o direito ao nosso egocentrismo  perguntaram por que receávamos, então, o silêncio, ao qual se respondeu: porque nunca  existiu. 
Guilherme g Oliveira

Back to Top